Há séculos, o cultivo do café desempenha um importante papel na economia do país. Instituído em 2005 pela Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) para marcar o início da colheita das principais regiões cafeeiras do Brasil, o Dia Nacional do Café, celebrado no dia 24 de maio, busca valorizar e homenagear a bebida que representa uma verdadeira paixão nacional e que não pode faltar na mesa da maioria dos brasileiros.
Tradicional como a própria bebida, o cultivo do café na região do Caparaó ultrapassa gerações e vem despertando o interesse e conquistando os corações de agricultores mais jovens da localidade. Um legado que, ainda que timidamente, vem sendo passado de pai para filho nos últimos tempos e tem contribuído diretamente para garantir a qualidade da produção local.
“A sucessão familiar no cultivo do café ainda é um pouco tímida no Espírito Santo, mas, na região do Caparaó, vem sendo incentivada e priorizada, dada a sua importância como forma de perpetuação da atividade”, aponta Leonardo Ferreira dos Santos, analista da regional Caparaó do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES).

É o que mostra a história da família Lacerda, na qual o cultivo do café teve início quando o patriarca, Onofre Alves de Lacerda, ainda era criança. “Hoje, o meu pai já está com 80 anos. Antes dele, o meu avô já produzia aqui nessa microrregião do Caparaó”, conta José Alexandre Lacerda, que segue dando continuidade à tradição familiar em suas propriedades, localizadas em Dores do Rio Preto (ES) e em Espera Feliz (MG).
Segundo José Alexandre, o seu pai manteve e criou toda a família graças à cultura do café. “Nesses longos anos, vimos e vivenciamos alguns períodos de crise na cafeicultura e, para garantir a manutenção e o sustento da nossa família, precisamos intercalar a nossa atividade principal com o cultivo de outros produtos, como batata, milho, cebola e feijão”, recorda
Unanimidade entre os amantes da bebida, foi o seu pai que, há muitos anos, vislumbrou a possibilidade de produzir os chamados cafés especiais, produtos que são caracterizados por apresentarem um padrão de qualidade superior ao dos tradicionais. Visionário, Onofre percebeu uma oportunidade nesse nicho de mercado antes mesmo de o segmento se tornar uma tendência.

“Atualmente produzimos algumas variedades de café, como Caparaó Amarelo, o Catuaí Vermelho, o Gueixa e outros, que são produzidas por meio de processos variados, como o fermentado, o natural e o cereja descascado. E, dentro dessa multiplicidade de opções, conseguimos produzir opções diferentes para atingir mercados distintos. É uma grande responsabilidade entender o que foi iniciado pelo nosso pai, que é trabalhar na qualidade dos nossos cafés, e entregar essa qualidade na mesa das pessoas. E, felizmente, também temos conseguido transmitir isso para os nossos filhos”, comemora José Alexandre.
João Vitor, de 22 anos, filho de José Alexandre, é uma prova viva de que a transmissão do conhecimento entre gerações traz resultados positivos. Ele, que tem seguido o legado dos seus antepassados buscando agregar conhecimento, inovação e tecnologia à produção de café nas propriedades da sua família, já foi, inclusive, premiado recentemente.
Em 2023, ele conquistou a segunda colocação no Coffee of the Year, concurso voltado para produtores de todas as regiões do Brasil que tem como objetivo reunir os melhores cafés do país e eleger os grandes destaques do ano, incentivando assim o desenvolvimento e o aprimoramento da produção nacional e a divulgação de novas origens do café.
“É uma alegria muito grande perceber que o que a nossa família começou há muitos anos é uma realidade e que hoje vivemos disso, conseguindo transmitir essa tradição não só para os nossos filhos, mas também para as pessoas que convivem conosco no dia a dia. Ver o meu filho tomando a decisão de se manter no campo, de se aprofundar mais no aprendizado da cafeicultura e de ser premiado pelo trabalho que realiza é motivo de muito orgulho.”
José Alexandre reforça a importância de manter a família unida em torno do cultivo do café. “Hoje, o que eu considero mais importante na produção dos cafés especiais é ver que a nossa família permanece no campo, unida. Aqui, temos qualidade de vida e condições de estarmos próximos uns dos outros.”
Produção entre fronteiras
A sucessão familiar é uma realidade também na família Protazio, que assim como os Lacerda, produz cafés na região do Caparaó. Com propriedades localizadas no ES e em MG, Manoel Protazio é o típico produtor que oscila na fronteira dos estados, onde a altitude e as condições climáticas propiciam a produção de cafés especiais. A sua lavoura capixaba é vizinha direta do Parque Nacional do Caparaó, com altitude média de 1.200 metros.
Esposa, filhos, genros, noras e netos participam com ele do cultivo do café que, segundo ele mesmo conta, iniciou na sua família nos tempos do seu pai, José Marques de Abreu Neto, na década de 1940, e continua ativa desde então.

Segundo ele, desde a chegada do descascador comunitário, em 2010, sua família vem conquistando prêmios e notoriedade na produção de cafés de alta qualidade. Ele se diz surpreso com a rápida ascensão e com o potencial dos cafés da região, mas extremamente satisfeito com os resultados alcançados.
“A cafeicultura vem passando de geração em geração, mantendo viva a tradição da agricultura familiar para atingir o objetivo, que é levar café de qualidade para os nossos consumidores”, relata.
Indicações Geográficas
Como parte da estratégia para fortalecer a atividade na região e de incentivar uma maior participação de jovens no cultivo do produto, no início deste ano foi realizado o Conexão Caparaó 2025. Promovido anualmente, o evento tem como objetivos promover a integração, a divulgação e a comercialização dos cafés especiais da região.
Organizado pela Associação de Produtores Rurais de Pedra Menina (Aprupem), distrito do Caparaó, e com uma programação vasta envolvendo palestras, oficinas e exposições, entre outras atividades, a iniciativa contou ainda com um concurso de qualidade de cafés, cujos vencedores foram jovens produtores da região.
“O Espírito Santo possui três Indicações Geográficas (IGs) para o café, que são Caparaó para o café arábica, Montanhas do Espírito Santo para o café arábica e Espírito Santo para o café conilon. A qualidade do café capixaba é indiscutível e, por isso, é importante ter meios para dar continuidade a essa tradição”, destaca a analista técnica do Sebrae/ES, Jhenifer Soares.

Segundo ela, a sucessão familiar é um tema preocupante para os cafeicultores capixabas, que querem dar continuidade à qualidade do produto e à tradição familiar. “Antigamente, os filhos saíam do campo para estudar e não voltavam. Hoje, já existe um movimento contrário e que vem ganhando força. Os jovens vão para a cidade em busca de conhecimento e de especialização, mas retornam para o campo levando inovação, tecnologia e estratégias modernas de gestão. Isso resulta em um modelo de negócios mais eficiente e sustentável, alinhado às demandas do mercado”, relata.
Além da implementação de tecnologia na produção, Jhenifer explica que muitos jovens estão investindo em cafés especiais, agregando valor ao produto e explorando novas oportunidades de comercialização, como vendas diretas e exportação. Há, também, um movimento forte de digitalização, com o uso de redes sociais para promover marcas e conectar produtores aos consumidores.
“Nos eventos em que temos levado os cafeicultores, como o ESX, a Semana Internacional do Café e a feira da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), entre outros, é muito comum ver o envolvimento desses jovens na gestão dessas marcas de cafés especiais. Cada vez mais eles estão se preparando e atuando fortemente para expandir os negócios da família.”
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