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Julia Netto, Priscila Gama e Fernanda Eller são capixabas, empresárias e confessam que serem apaixonadas pelo empreendedorismo. Mas apesarem de serem a maioria da população, muitas mulheres ainda passam por desafios para conseguir abrir a própria empresa. A última Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) aponta que 36,5% dos empreendedores capixabas são mulheres.
Para as mais de 223 mil empreendedoras capixabas, assumir um negócio também significa romper com as barreiras do preconceito, ganhando liberdade financeira, confiança e autoestima. “Empreender não é um conto de fadas. É preciso ter paixão pelo negócio e querer aprender e se desenvolver diariamente para que seja possível manter o ritmo de crescimento e superação. É desafiador ter tantas atividades a serem estudadas e paralelamente levar o negócio com diversas tarefas a serem realizadas todos os dias”, aponta a empresária Julia Netto, criadora da Dona Eva.
Ela abriu a empresa ainda na cozinha dos pais. Foi ali que surgiram os primeiros produtos, sabonetes que ajudaram a Julia a decidir qual caminho seguir profissionalmente. “Eu estava totalmente perdida no que eu deveria fazer profissionalmente e estava tentando várias coisas ao mesmo tempo. A produção de sabonetes a princípio era uma forma de fazer uma renda até que eu conseguisse entender para onde eu deveria caminhar, mas percebi que a Dona Eva me ajudava a desenvolver muitas habilidades, e resolvi me dedicar mais um tempo”, revela.
Já são seis anos de Dona Eva, e Julia conseguiu ultrapassar a barreira dos 21,6% dos micro e pequenos empreendimentos que fecham antes mesmo de completarem cinco anos de atividade no país. Neste período, a empreendedora foi buscando capacitações que ajudaram a crescer, formar e fortalecer sua empresa. “O Sebrae sempre foi um grande parceiro. Solicitei análises e suporte de diversos profissionais de várias áreas e tive respostas que me ajudaram a entender como eu deveria seguir e construir a empresa de forma que ela pudesse crescer estruturadamente”, conta Julia.
Com muita dedicação e determinação, Julia conseguiu ampliar o mercado da Dona Eva, abriu seu próprio ateliê há cinco anos e, desde 2021, também tem uma sede da empresa em São Paulo. Foi por meio do empreendedorismo que ela conseguiu se encontrar profissionalmente e, hoje, concretizar os sonhos que estabeleceu para o seu negócio. Da mesma forma como Priscila Gama, ativista e empreendedora de impacto social, vem alcançando as suas metas.
O desejo de empreender, para Priscila, surgiu a partir da insatisfação no trabalho em que se encontrava. “O empreendedorismo aparece na minha vida como uma forma de me realizar profissionalmente e dentro dos meus propósitos, veio como uma possibilidade de realização”, conta ela. E os sonhos dessa empresária vão além de atender somente às próprias metas. Priscila é idealizadora do Bekoo das Pretas, um evento com atrações negras capixabas que já ajudou e ainda ajuda a evidenciar diversos talentos, além de gerenciar o Instituto Das Pretas, espaço destinado a contribuir na transformação de realidades negras através do empreendedorismo.
Hoje, mais de 54% das empreendedoras capixabas são negras, de acordo com a PNAD-C. E Priscila, além de fazer parte desse grupo, também trabalha para que ele seja cada vez maior. Através do Instituto Das Pretas ela leva conhecimento, informação e inovação em tecnologia social. “Eu acredito muito no poder da educação e no poder transformador do acesso ao conhecimento de dinâmicas empreendedoras, não só para montar o seu negócio, mas para você remodelar caminhos. Esse letramento empreendedor vem para dialogar possibilidades de autonomia, independência e sobretudo de realização”, explica.
E é por enxergar o empreendedorismo como um propósito de vida que Priscila também o percebe com um olhar transformador. “Enquanto mulher negra e periférica ser empreendedora é estar em um lugar de realização e orgulho, porque muitas vieram antes de mim para que eu pudesse estar aqui vivendo desse meu negócio. E eu me sinto honrada em celebrar o fato de que eu estou sendo porta para que outras pessoas adentrem espaços de acesso. Isso pra mim é muito importante e realizador, e tem um valor muito maior que o dinheiro”, finaliza.
E o empreendedorismo, como defende Priscila, tem o poder de transformar vidas. A Fernanda Eller, por exemplo, moradora do bairro Jesus de Nazaré, em Vitória, sabe bem disso. Há 15 anos ela começou a se envolver diretamente com o setor pesqueiro. E, a partir daí, abriu a empresa Eller Pescados, com entrega de peixes e mariscos frescos em regiões onde o acesso a esses produtos era mais difícil. “Nascida e criada na comunidade da rota pesqueira que tem muito acesso a peixe e mariscos, eu fui aprendendo que dali eu conseguiria tirar um sustento pra mim”, conta Fernanda Eller, moradora de Jesus de Nazaré.
E mesmo com tantos desafios, Eller seguiu adiante. Após de precisar parar a empresa por um tempo, devido à falta de orçamento, recentemente ela retomou a realização de seu sonho e reativou as atividades com orientação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES).
“Eu estou vindo de uma forma diferente, estou tentando me capacitar, porque eu sei que a mulher tem o direito de estar no mercado. Essa é a área que eu me identifiquei e creio que é aqui que vou realizar o meu objetivo e o meu sonho”, conta a empreendedora.
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