Um saber ancestral, passado por gerações de agricultoras, e que hoje, a partir do trabalho do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES) e da Prefeitura de Aracruz, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, pode virar renda para a comunidade de Boa Vista, no distrito de Santa Rosa. Essa é uma nova possibilidade para as mulheres que trabalham com a taboa, uma planta nativa da região.
A relação das mulheres de Boa Vista com a taboa começou em meados de 1980 pelas mãos da dona Aldir Carvalho. Com maestria, ela transformava a colheita da taboa em esteiras, que por muito tempo foram usadas como colchão para que todos os 16 filhos pudessem dormir. Era da venda dessas esteiras que ela também complementava a renda da família de agricultores. Ainda hoje, as esteiras são o principal produto feito a partir dessa matéria-prima na comunidade.
O conhecimento foi repassado para a família, e hoje, quem dá continuidade a esse ofício é uma das filhas de dona Aldir, a Rosiana Carvalho, junto com outras mulheres da comunidade.
“Eu aprendi com a minha mãe, olhando ela fazer, desde ir ao brejo cortar a taboa até tecer a esteira, então hoje eu quero que essa produção se torne fonte de renda para a nossa família. Algumas pessoas vêm a nossa porta comprar as esteiras e eu quero dar continuidade a esse trabalho, não deixar a tradição de fazer esteiras se perder. Sempre tem que ter alguém fazendo, ir passando de mão em mão, para que os jovens também aprendam”, ressalta Rosiana.
O Sebrae/ES, em parceria com a prefeitura, vem promovendo encontros de capacitação e imersões desse grupo de artesãs com outros núcleos do estado que também trabalham com a taboa. A partir desses momentos, elas já puderam conhecer outras possibilidades de utilização da planta.
“Queremos mostrar para essas mulheres que elas podem ir além e a troca de experiências, conhecimentos e saberes é um caminho para isso. Esse é um trabalho que começamos a acompanhar desde o início e o nosso objetivo é formalizar essas mulheres que estão muito interessadas e empenhadas em realmente transformar esse saber em negócio. Consequentemente, possibilitamos a elas o acesso ao conhecimento e à independência financeira”, explica a analista do Sebrae/ES Roberta Vieira.
O intuito é ampliar a cartela de produtos e organizar as artesãs em uma associação para que elas possam comercializar suas peças.
“A formalização vai mudar a nossa realidade, e a visita aos outros grupos foi uma experiência muito proveitosa, cheia de aprendizado. Essa é uma boa iniciativa, com esse apoio estamos tendo uma visualização mais ampla nesse projeto, sendo que através do Sebrae/ES nosso trabalho fica mais conhecido. Vamos ter benefícios na agricultura familiar e artesanal, e muitos vão seguir esse exemplo”, conta a artesã Isaura Vieira.
Preservação ambiental
Além da memória afetiva resgatada durante a produção e a geração de renda para as artesãs, a sustentabilidade também faz parte desse trabalho, uma vez que a comunidade está inserida na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Municipal de Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, ou seja, uma área de proteção ambiental.
“O resgate da técnica como fonte de renda possibilita o empoderamento financeiro de mulheres ao mesmo tempo em que diminui a pressão por outros recursos dentro da Unidade de Conservação, como por exemplo a cata de caranguejo. Quando uma atividade é desenvolvida em área de Unidade de Conservação é preciso que o órgão responsável esteja ciente, e respalde que tal atividade gere pouco ou nenhum impacto negativo no local. No caso da taboa, que é uma espécie disponível naturalmente em áreas alagadiças, não é necessário um manejo muito específico, respeitando um rodízio de área, sempre tem material para se trabalhar”, destaca a Coordenadora de Unidade de Conservação de Uso Sustentável, Priscilla Nobres.
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