Dia 19 de março é comemorado o Dia Mundial do Artesão, ofício daqueles que, utilizando as mãos, transformam matérias-primas em produtos cheios de significado, beleza e história. Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data foi criada em homenagem a São José, pai de Jesus, que trabalhava como marceneiro. Muitas vezes retratando a cultura de uma região por meio de produtos diferenciados em que o trabalho manual predomina sobre o processo industrial, o artesanato é uma das atividades mais antigas realizadas pelo homem.
“O Espírito Santo tem mais de 13 mil artesãos registrados com a carteira do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab) e mais de 40 mil a se formalizar, de acordo com dados da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes). O documento garante a eles o reconhecimento como profissionais da categoria em âmbito estadual e federal, o que contribui com o impulsionamento da economia no estado”, revela a gestora de Artesanato do Sebrae/ES, Clébia Pettene de Souza.
Clébia destaca que o artesanato é uma arte popular que expressa a sua identidade, seja ela indígena, quilombola ou referência cultural. “Trata-se de um movimento relevante, com desafios enormes, mas com impactos significativos na economia do Espírito Santo e do Brasil”. O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES) vem trabalhando junto aos artesãos capixabas por meio de ações diversas e de capacitações nas áreas de Marketing, Gestão, Acesso a Mercados e Design, entre outras. O objetivo é torná-los ainda mais competitivos e produtivos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o artesanato emprega cerca de 8,5 milhões de pessoas no Brasil, com uma expressiva maioria sendo mulheres. Já o Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), entidade que tem como missão promover o artesanato brasileiro, destaca que 53% dos artesãos brasileiros são pardos e negros.
Artesanato local
Além de encantar, a arte de fazer com as mãos preserva identidades, valoriza conhecimentos ancestrais e fortalece o empreendedorismo e a economia locais por meio da geração de emprego e renda. Guardião de culturas, o artesanato também tem o potencial de contribuir para impulsionar o turismo de uma determinada região ao reproduzir elementos característicos daquele lugar.

Das tradicionais panelas de barro a trabalhos manuais utilizando escamas de peixe e conchas, ou linhas e agulhas na confecção de peças em renda, bordado e crochê, a riqueza cultural e a variedade do artesanato capixaba são vistas de norte a sul graças à diversidade étnica que deu origem ao estado.
“Temos qualificado o artesão capixaba para participar de feiras, eventos e missões como forma de possibilitar a troca de experiências, a obtenção de novos aprendizados e o ganho de visibilidade tanto no mercado nacional quanto no internacional, promovendo as suas tradições e as técnicas do artesanato local”, salienta Clébia. A gestora conta que, como parte dos planos para aprimorar a atuação da classe, em 2025, o Sebrae/ES passa a oferecer novas soluções por meio de capacitações com o objetivo de possibilitar o aprimoramento e as vendas dos seus produtos, a fim de que se destaquem em novos mercados.
Para celebrar, reconhecer e valorizar esse ofício, que além de encantar, é carregado de muito significado histórico, no próximo dia 19, a Federação dos Artesãos do Espírito Santo (Feartes) vai realizar um evento comemorativo para homenagear esses profissionais dos diversos tipos de produção. O encontro, que ocorrerá no Cerimonial Oásis, em Vitória, das 8h às 17h, contará com o apoio do Sebrae/ES e da Agência de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Aderes).
Liberdade por meio da arte
Após vivenciar um relacionamento abusivo e de ser vítima de violência doméstica por mais de dez anos, a artesã Cris Ferrari, de 43 anos, encontrou a liberdade nas artes manuais. Ela foi uma das mulheres que tiveram as suas histórias retratadas no documentário “Ato Final”, produção cinematográfica da Andaluz Filmes (2019), que denuncia o machismo e o feminicídio no Espírito Santo.

“Num primeiro momento, comecei a fazer chinelos customizados como forma de terapia”, lembra. Naquela época, as peças que produzia se destinavam tanto para uso pessoal quanto para presentar amigos. “Até que tive a oportunidade de expor os meus produtos numa feira promovida pelo Sebrae/ES e pela Aderes. Daí para a frente, não parei mais”.
Além de expor suas produções em feiras de artesanato, Cris também comercializa os produtos em suas redes sociais, tanto no Instagram @crisferrarihavaianas quanto no Facebook. O seu trabalho criativo já ultrapassou, inclusive, as fronteiras do Espírito Santo, chegando a vários estados brasileiros e até ao exterior. Antes de se descobrir no artesanato, Cris trabalhava na área de saúde e, com orgulho, conta que a então técnica em consultório odontológico saiu de cena e deu lugar à artesã, que tem hoje o artesanato não só como terapia, mas como única fonte de renda.
“O artesanato me dá a possibilidade de ‘viajar’ num universo maravilhoso cheio de possibilidades, onde me encontro todos os dias livre de qualquer forma de violência”. Atualmente, Cris participa de grupos de combate à violência doméstica e faz questão de deixar algumas palavras de incentivo para as mulheres que são vítimas de relações abusivas: “Gostaria de dizer para todas as mulheres que há sim uma saída, há uma solução para a violência doméstica. Costumo dizer que fui jogada de um penhasco e descobri que tinha asas e sabia voar. O céu é o limite, acredite”.
Tecendo a vida entre linhas e agulhas
Uma história de superação que começou a ser escrita há aproximadamente 40 anos. Desde criança, a artesã Fabrícia de Freitas Americo, de 47 anos, é apaixonada pelo crochê. Natural de Nova Venécia, foi aos 18 anos, com a chegada do primeiro filho, que ela percebeu o potencial que esse tipo de arte tinha para transformar a sua vida. “Usei o artesanato como uma fonte de renda para auxiliar nas despesas do lar. O ofício me garantia a flexibilidade de trabalhar em casa e de, paralelamente, cuidar do meu filho. Naquela época, eu fazia desde bicos para toalhas a peças variadas de vestuário”.
Assim que adquiriu um pouco mais de experiência, Fabrícia passou a ensinar a arte de tecer linhas para as amigas, descobrindo assim uma nova forma de fazer renda através do crochê. “Com o passar do tempo, fui deixando o crochê um pouco de lado, já que não estava mais trazendo retorno financeiro suficiente para cobrir as despesas”, relembra. O desafio de manter as contas em dia trouxe à tona um outro sonho de Fabrícia, que era o de cursar uma faculdade. “Paralelamente ao emprego que tinha à época, iniciei o curso de Direito em São Paulo, onde atuei como advogada até meados de 2016. Mas, sempre fazendo uma coisa ou outra de crochê”.
Em 2015, Fabrícia sofreu um revés: um acidente automobilístico vitimou duas pessoas da sua família e ela viu a sua vida se transformar em muitos sentidos. Em 2017, a perda, envolta em dor e saudade, a trouxe de volta ao Espírito Santo e proporcionou o seu reencontro com o crochê de uma forma mais intensa. “Comecei a ensinar crochê de novo para senhoras em uma comunidade religiosa da qual eu participava e percebi que aqueles momentos estavam me trazendo conforto mental”, conta.

A arte manual que ela conheceu há quase 40 e retornou à sua vida de forma voluntária, ganhou escala a partir de indicações de amigos e trouxe novo ânimo para Fabrícia. “Além de atender encomendas, passei a dar aulas particulares todos os dias. O crochê foi preenchendo a minha vida de uma maneira que eu não queria mais parar, não queria nem dormir, só queria fazer crochê. Parecia um vício”, relata, sorrindo. “O crochê me ajudou e ainda me ajuda muito. Eu amo o que faço e hoje eu vivo dessa arte. Estamos ganhando espaço nessa modernidade, nessa nova onda do crochê. Tenho alunas e clientes maravilhosas”, comemora.
Fabrícia expõe os seus produtos em feiras como a “ArteSanto”, que reúne artesãos, atrações culturais e gastronômicas, além de outros eventos semelhantes, mas de menor porte. “Digo sempre às minhas alunas: não há nada melhor do que pegar uma linha, uma agulha e deixar os pensamentos fluírem, higienizar a mente e criar peças maravilhosas. Esse é o significado que o crochê tem na minha vida.”
-
INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA
Rogéria Gomes: (27) 99913-2720 / rogeria.gomes@p6comunicacao.com.br
Ludmila Azevedo: (32) 98889-0675 / ludmila.krepe@p6comunicacao.com.br
–
INFORMAÇÕES PARA EMPREENDEDORES
Central de Relacionamento Sebrae – 0800 570 0800
Os textos veiculados pela Agência Sebrae de Notícias – ES são produzidos pela Assessoria do Sebrae/ES e podem ser reproduzidos gratuitamente, apenas para fins jornalísticos, mediante a citação da Agência.